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30 de setembro de 2011

Em forma de agradecimento


A postagem de hoje é mais um agradecimento que noticias sobre meu dia..
Palavra alguma poderia demonstrar o amor que sinto por vocês.
Bom, só  tenho a agradecer a essas duas pessoas sensacionais da foto, Alma e Mãe, obrigada pelo apoio, carinho, amor e cuidado. Obrigada por cada abraço, cada palavra de conforto e  cada gesto de atenção. Obrigada pela disponibilidade, pela confiança que me transmitiram e pela ajuda constante e incansável, especialmente nos momentos difíceis. Obrigada por me proporciona dois excelentes meses.
Espero retribuir de alguma forma cada momento que passamos juntas.




Quero que sinta que cada conquista minha tem um pouco de vocês.



Voltando de uma longa pausa, estava pensando que hoje era pra ser um dia animado, um dia na qual eu me sentisse bem com essa nova fase. Devem estar se perguntando por que não me sinto de tal forma. Só que a resposta é tão simples e obvia. Como poderia ter a sensação de estar bem sabendo que vou passar cinco dias longe de vocês? Que vou acordar e não darei  o beijo e desejarei bom dia. Que vou chegar do trabalho e não vou ter vocês esperando por mim, para comer, conversar, contar como foi o dia.
Como ficarei bem sabendo que ao sair ou ao chegar em casa não vou encontrar Nosso Príncipe dormindo , chorando ou mamando?
É uma sensação estranha... Aquela mistura de sentimentos que vai te devorando por dentro. Você fica sem sentir absolutamente nada como se estivesse anestesiada.

É como escreveu Caio Fernando Abreu: E sempre tem a hora em que você pensa: “Que porra é essa que está acontecendo comigo?"


Com amor e ternura,

Sua Filha e Alma Gêmea.

29 de setembro de 2011

Feliz Aniversário!!


Hoje é aniversário de uma pessoa essencial na minha vida.

Aquele que me atura há 23 anos. Aquele me segurava quando eu caia. Aquele me ensinou amar sem pedir nada em troca. Aquele que me faz ter as escolhas. Aquele me faz chorar ao conversar comigo.
Aquele tem vergonha do seu passado e faz de tudo para que eu não desvie do meu destino e de uma passadinha nos caminhos que ele trilhou.
Aquele que me ensinou a ser forte mesmo quando eu achava que não tinha forças.
Aquele que não me julgou pelo maior erro que cometi na  vida.

Aquele que me abraçou quando achou que eu fosse morrer e disse: eu não suportaria viver sem você.

Aquele que me fez ser mimada por toda família. Aquele homem que eu tenho orgulho de dizer que é meu segundo Pai.


Vovô, hoje é seu dia... e eu fico feliz em comemorar essa nova idade contigo. Que sua nova primavera seja repleta de flores, cores e cheiros... Que o Senhor te abençoe e te purifique por muitos anos.
Que você continue agindo, sendo, falando e pensando como o mesmo Vozinho Chato e cabuloso  que eu tanto amo e admiro.



                                        Feliz Aniversário, Te amo!!

21 de setembro de 2011

Acho que foi o fato de você partir que me fez descobrir tantas coisas...




Tão difícil comunicar aquilo que sentimos no nosso íntimo, aquilo que sentimos intensamente… Uma alegria imensa quando conseguimos (in) escrever-nos.

Escrever e ser lido e tão diferente que eu, particularmente, acho complexo expressar carinho e afeto através das palavras. Compartilhar a palavra escrita é a função de escrever a palavra. Me comunico muito com o olhar. As intensidades que meus olhos possuem ao conversar expressam claramente tudo o que sinto.
Falar que alguém é especial e tem um potencial criativo perfeito pode ser tornar um clichê. Dizer que você admira e tem apreço por alguém é tão diferente de quando você  olha nos olhos e consequentemente esse alguém percebe o que você quer falar.

Como diz Jorge Miguel Marinho “Escrever para alguém é essa necessidade tão humana de aproximar a mão que escreve dos olhos de quem lê.”

Beijo ;*

20 de setembro de 2011

Oásis



Para
José Cláudio Abreu,
Luiz Carlos Moura
e o negrinho Jorge.



A brincadeira não era difícil: bastava que nos concentrássemos o suficiente para conseguirmos transformar tudo que havia em volta. E treinados como estávamos nas imaginações mais delirantes, era relativamente fácil avistar um deserto na rua comprida e um oásis no arco branco do portão do quartel, lá no fundo. Algumas vezes tentamos iniciar um ou outro guri da nossa idade, mas eles não conseguiam nunca chegar até o fim. Os mais persistentes alcançavam a metade do caminho, mas era mais comum rirem de saída e irem cuidar de outra coisa. Talvez porque, ao contrário de nós três, nunca houvessem visto o quartel por dentro, com seus lagos, cavalos, alamedas calçadas, eucaliptos, cinamomos, soldados.

Acho mesmo que foi naquela tarde em que visitamos o quartel pela primeira vez que a brincadeira nasceu. Absolutamente fascinados, sentimos necessidade de vê-lo mais e mais vezes, principalmente ficamos surpresos por não termos jamais imaginado quantas maravilhas se escondiam atrás daquele portão branco, e tão tangíveis, ali, no fim da rua de nossa casa. Não sei de quem partiu a idéia mas, seja de quem foi, ele foi muito sutil ao propôla, disfarçando a coisa de tal jeito que não suspeitamos tratar-se de apenas um pretexto para visitar mais vezes o quartel. Claro que não confessaríamos claramente nosso fascínio, tão empenhados andávamos em, constantemente, simular um fastio em relação a todas as coisas. Fastio esse que, para nós, era sinônimo de superioridade.

Era preciso bastante sol para brincar — fazíamos questão de ficar empapados de suor e de sentirmos sobre as cabeças aquela massa amarela quase esmagando os miolos. Era preciso também que não houvesse chovido nos dias anteriores, pois por mais hábeis que fôssemos para distorcer pequenos ou grandes detalhes, não o éramos a ponto de aceitar um deserto lamacento. Quando todas essas coisas se combinavam, a proposta partia de qualquer um de nós.

Brincar de oásis era a senha, e imediatamente caíamos no chão, ainda desacordados com o choque produzido pela queda do avião onde viajávamos, depois lentamente abríamos os olhos e tateávamos em volta, no meio da rua, tocando as pedras escaldantes da hora de sesta. Quase sempre Jorge voltava a fechar os olhos, dizendo que preferia morrer ali mesmo do que ficar dias e dias se cansando à toa pelo deserto. E quase sempre eu apontava para o arco no fim da rua, dizendo que se tratava de um oásis, que meu avião já havia caído lá uma vez e que, enfim, tinha experiência de caminhadas no deserto. Em seguida Luiz investigava os bolsos e apresentava algum biscoito velho, acrescentando que tínhamos víveres suficientes para chegar lá. Convencido Jorge, tudo se passava normalmente. Aos poucos nossas posturas iam decaindo: no fim da primeira quadra, tínhamos os ombros baixos, as pernas moles — na altura do colégio das freiras começávamos a tropeçar e, para não cair, nos segurávamos no muro de tijolos musguentos.

A partir do colégio as casas rareavam, e além de algumas pensões de putas não havia senão campo, cercas de arame farpado e a poeira solta e vermelha do meio da rua. Então, sem nenhum pudor, andávamos nos arrastando enquanto algumas daquelas mulheres espantosamente loiras nos observavam das janelas por baixo das pálpebras azuis e verdes, pintando as unhas e tomando chimarrão embaixo das parreiras carregadas. Tudo se desenvolvia por etapas que eram vencidas sem nenhuma palavra, sem sequer um olhar. Raramente alguém esquecia alguma coisa. Apenas uma vez Jorge não resistiu e, interrompendo por um momento a caminhada, pediu um copo d’água para uma daquelas mulheres. Eu e Luiz nos entreolhamos sem falar, escandalizados com o que julgávamos uma imperdoável traição. Mas a tal ponto nos comunicávamos que, mal voltou, a água ainda pingando do queixo, Jorge justificou-se com um sorriso deslavado:
– Foi uma miragem.

A partir de então as miragens se multiplicaram: vacas que atravessavam a rua, pitangueiras no meio do campo, alguma pedrada num passarinho mais distraído. Chegávamos no portão e ficávamos olhando para dentro, sem coragem de entrar, com medo dos dois soldados de guarda. Lá dentro: o paraíso. Mas era como se tivéssemos entrado: voltávamos novamente eretos, bem-dispostos, com as peças para consertar o avião caído e que, sem a menor explicação, tínhamos encontrado entre duas palmeiras.
Houve um verão de seca tão intensa, sol, poeira, sede e crepúsculos esbraseados, que brincávamos quase todos os dias. Acabamos fazendo amizade com um soldado que ficava de guarda às segundas, quartas e sextas. Aos poucos, então, começamos a suborná-lo, usando os métodos mais sedutores, adestrando-nos em cinismos. Começamos por mostrar a ele figurinhas de álbum, depois levando revistas velhas, biscoitos, rapaduras, pedaços de galinha assada do almoço de domingo, garrafas ‘azias e, finalmente, até mesmo alguma camisa que misteriosamente desaparecia do varal de casa. Mas a vitória só foi consumada quando Dejanira, a empregada, entrou em cena Com muito tato, conseguimos interessar o soldado numa misteriosa mulata que espiava todos os dias a sua passagem para o quartel, de manhã cedinho, escondida atrás da janela da sala. Era uma mulata tímida e lânguida, que fazia versos às escondidas e pensava vagamente em suicídio nas noites de lua cheia. Dejanira parecia um nome muito vulgar para uma criatura de tais qualidades, então tomamos a batizá-la de Dejanira Valéria e, pouco a pouco, fomos acrescentando mais e mais detalhes, até conseguir enredar o soldado a um ponto que ele chegava a nos convidar para entrar no quartel. Antes do avião cair nos esmerávamos em forjar bilhetes cheios de solecismos e compor versos de pé quebrado em folhas de caderno, sensualmente assinados por docemente tua, Dejanira Valéria, numa caligrafia que Luiz caprichadamente enchia de meneios barrocos altamente sedutores. E na hora do banho Dejanira não entendia por que a tratávamos com tanto respeito, chamando-a candidamente de doce Valéria, até que nos enchia de cascudos e palavrões. Mas a confiança do soldado estava ganha: já agora se empenhava em nos agradar, atraindo-nos para dentro do quartel e permitindo que ficássemos horas zanzando pelo pátio calçado, as árvores pintadas de branco até a metade, os cavalos de cheiro forte e crina cortada, apitos, continências, bater de pés e outras senhas absolutamente incompreensíveis e deslumbrantes em seu mistério. Coisas estranhas se passavam ali, e tínhamos certeza de estarmos lentamente ingressando numa espécie de sociedade mágica e secreta.

Foi quando, uma tarde, tudo se passando exatamente como das outras vezes, nos encontramos os três parados à frente de um portão sem guarda. Não conseguimos compreender, mas estávamos tão habituados a entrar e a passar despercebidos que, como das outras vezes, entramos. Havia um movimento incomum lá dentro: carroças se chocavam, armas passavam de um lado para outro, soldados corriam e gritavam palavrões, o chão estava sujo de esterco, os cavalos todos enfileirados. Conseguimos passar mais ou menos incógnitos pelo meio da babilônia, até chegarmos numa sala onde nunca estivéramos antes. Examinamos as paredes vazias, depois descobrimos num canto, sobre uma mesa, um estranho aparelho cheio de fios. Jorge descobriu um microfone e, por algum tempo, ficamos ali parados, sem compreender exatamente o que era aquilo, mas certos de que se tratava de uma peça importantíssima para o funcionamento de toda a organização.

Estávamos tão entretidos na descoberta que não percebemos quando entraram dois soldados com fardas diferentes das dos outros, com penduricalhos coloridos nos ombros. Fui o primeiro a vê-los, mas não foi possível avisar os outros: os soldados já avançavam sobre nós, vermelhos, segurando-nos pelos ombros e nos sacudindo até que Jorge começasse a chorar e a chamar pela mãe. Falavam os dois ao mesmo tempo, aos berros. Depois, com mais alguns trancos, nos jogaram num canto. Um deles, de enorme bigode preto, avançou para nós e, com uma voz que me pareceu completamente hedionda, disse que ficaríamos presos até aprendermos a não nos meter onde não era da nossa conta. Ainda discutiu um pouco com o outro, que parecia estar do nosso lado, pelo menos torcemos para que fosse assim. Mas não adiantou nada: o de bigode enorme disse que era só um susto, e saiu nos empurrando até a prisão.

Era um quartinho ainda menor que o de Dejanira, infinitamente mais sujo e frio, apesar de todo o calor que fazia lá fora, com uma janelinha gradeada na altura do teto. Ficamos ali durante muito tempo, incapazes de dizer qualquer palavra, num temor tão espesso que não era preciso evidenciá-lo através de um grito. Jorge chorava, eu e Luiz nos encolhíamos contra as paredes. Pensamentos terríveis cruzavam a minha cabeça, pelotões, fuzilamentos, enquanto uma dor de barriga se tornava cada vez mais insuportável, até escorregar pelas pernas numa massa visguenta.
Já era noite quando vimos com alívio a porta se abrir para dar passagem ao soldado nosso conhecido. Sem falar nada, fomos levados para casa num jipe militar. Mamãe estava descabelada, as vizinhas todas em volta, as luzes acesas: entramos na sala pela mão do soldado, que falou rapidamente coisas que não conseguimos entender, enquanto todo mundo nos envolvia em beijos e abraços, logo contidos quando perceberam meu estado lastimável. Mamãe disse que a culpada era Dejanira, que não cuidava de nós; papai disse que a culpada era mamãe, que nos entregava a Dejanira; Dejanira disse que os culpados éramos nós, uns demônios capazes de enlouquecer qualquer vivente; mamãe disse que Dejanira era uma china desaforada, e que demônios eram os da laia dela, e que o culpado era papai, que achava que em criança não se bate; Dejanira disse que não ficava mais nem um minuto naquela casa de doidos; papai disse que mamãe não nos dava a mínima; mamãe disse que era uma verdadeira escrava e que os homens só queriam mesmo as mulheres para aquilo; papai disse que não podia dar atenção a seus faniquitos na hora em que o país atravessava uma crise tão grave. E acabaram os três gritando tão alto quanto os dois soldados de farda diferente, com penduricalhos coloridos nos ombros.

Depois do banho assistimos à partida de uma Dejanira nem um pouco Valéria e muito menos lânguida: jogava as roupas na mala e resmungava desaforos em voz baixa. Doía vê-la ir embora, mas as chineladas e a vara de marmelo doeram muito mais. Fomos postos na cama sem jantar. Ficamos muito tempo acordados no escuro, ouvindo o som do rádio que vinha da sala e os passos apressados na rua. Antes de dormir ainda ouvi a voz de Jorge perguntando a Luiz o que era uma revolução, e um pouco mais tarde a voz de Luiz, apagada e hesitante, dizer que achava que revolução era assim como uma guerra pequena. Mais tarde, não sei se sonhei ou se pensei realmente que os aviões não caíam no meio das ruas, e que as ruas não eram desertos, e que portões brancos de quartéis não eram oásis. E que mesmo que portões brancos de quartéis fossem oásis e cinamomos pintados de branco até a metade fossem palmeiras, não se encontraria nunca uma peça de avião no meio de duas palmeiras. E por todas essas coisas, creio, soube que nunca mais voltaríamos a brincar de encontrar oásis no fim das ruas. Embora fosse muito fácil, naquele tempo.



Caio Fernando Abreu - O Ovo Apunhalado

12 de setembro de 2011

Gravata





Hoje Caio Fernando Loureiro de Abreu estaria completando 63 Anos.
Os bons se vão, e suas marcas ficam.


Que comece agora. E que seja permanente essa vontade de ir além daquilo que me espera. E que eu espero também. Uma vontade de ser. Àquela, que nasceu comigo e que me arrasta até a borda pra ver as flores que deixei de rastro pelo caminho. Que me dê cadência das atitudes na hora de agir. Que eu saiba puxar lá do fundo do baú, o jeito de sorrir pros nãos da vida. Que as perdas sejam medidas em milímetros e que todo ganho não possa ser medido por fita métrica nem contado A primeira vez que a viu foi rapidamente, entre um tropeço e uma corrida para não perder o ônibus. Mesmo assim, teve certeza de que havia sido feita apenas para ele. No ônibus, não houve tempo para pensá-la mais detidamente, mas, no dia seguinte, saindo mais cedo do trabalho, parou em frente à vitrine para observá-la. Era nada menos que perfeita na sua cor vagamente indefinível, entremeada de pequenas formas coloridas, em seu jeito alongado, na consistência que pressentia lisa e mansa ao toque. Disfarçado, observou o preço e, em seguida, retomou o caminho. Cara demais, pensou, e enquanto pensava decidiu não pensar mais no assunto.
Quase conseguiu — até o dia seguinte quando, voltando pela mesma rua, tornou a defrontar-se com ela, no mesmo lugar, sobre um suporte de veludo vermelho, escuro, pesado. Um suporte digno de tanta dignidade, pensou. E imediatamente soube que já não poderia esquecê-la. No ônibus, observou impiedoso as gravatas dos outros homens, todas levemente desbotadas e vulgares em suas colorações precisas, sem a menor magia. Pelo vidro da janela analisou sua própria gravata, e decepcionou-se constatando-a igual a todas as outras. Em casa, atarefado na cozinha, dispondo pratos, panelas e talheres para o próprio jantar, conseguiu por alguns momentos não pensar — mas um pouco mais tarde, jornal aberto sobre os joelhos, olhar perdido num comercial de televisão, surpreendeu-se a fazer contas, forçando pequenas economias que permitissem possuí-la. Na verdade, era mais fácil do que supunha. Alguns cigarros a menos, algumas fomes a mais. Deitado, a cama pareceu menos vazia que de costume. Na manhã seguinte, tomou a decisão: dentro de um mês, ela seria sua. Passou na loja, mandou reservá-la, quase envergonhado por fazê-la esperar tanto. Que ela, sabia, também ansiava por ele.

Trinta dias depois ela estava em suas mãos. Apalpou-a sôfrego, enquanto sentia vontade de usar adjetivos pomposos e cintilantes, de recriar toda a linguagem para comunicar-se com ela — o trivial não seria suficientemente expressivo, nem mesmo o meramente correto seria capaz de atingi-la: metafísicas, budismos, antropologias. Permaneceu deitado durante muito tempo, a observá-la sobre a colcha azul. Dos mais variados ângulos, ela continuava a mesma, terrivelmente bela, vaga e inatingível — mesmo ali, sobre a cama dele, mesmo com a nota de compra e o talão de cheques um pouco mais magro ao lado. Olhava os sapatos, as meias, a calça, a camisa — e não conseguia evitar uma espécie de sentimento de inferioridade: nada era digno dela. Um pouco mais tarde abriu o guarda-roupa e então deixou que um soluço comprimisse subitamente seu peito de coração ardente, como duas mãos que apertassem para depois libertá-lo em algumas lágrimas desiludidas. Não era possível. Não podia obrigá-la, tão nobre, a servir de companhia àqueles ternos, sapatos e camisas antigos, gastos, vulgares, cinzentos. Foi depois de olhar perdido para o assoalho que teve como um repente de lucidez. Então encarou agressivo a impassibilidade da gravata e disse:

– Você é minha. Você não passa de um objeto. Não importa que tenha vindo de longe para pousar entre coisas caras na vitrine de uma loja rica. Eu comprei você. Posso usá-la à hora que quiser. Como e onde quiser. Você não vai sentir nada, porque não passa de um pedaço de pano estampado. Você é uma coisa morta. Você é uma coisa sem alma. Você...
Não conseguiu ir adiante. A voz dele estremeceu e falhou bem no meio de uma palavra dura, exatamente como se estivesse blasfemando e Deus o houvesse castigado. Um Deus de plástico, talvez de acrílico ou néon. Olhou desamparado para o sábado acontecendo por trás das janelas entreabertas e, sem cessar, para a colcha azul sobre a cama, logo abaixo da janela e, mais uma vez, para a gravata exposta em seu suporte de veludo pesado, vermelho. Ele enxugou os olhos, encaminhou-se para a estante. Abriu um dicionário. Leu em voz alta:

Gravata S. f: lenço, manta ou fita que os homens, em trajes não-caseiros, põem à roda do pescoço e por cima do colarinho da camisa, atando-a adiante com um nó ou laço. Golpe no pescoço, em algumas lutas esportivas. Golpe sufocante, aplicado com o braço no pescoço da vítima, enquanto um comparsa lhe saqueia as algibeiras.

Suspirou, tranqüilizado. Não havia mistério. Colocou o dicionário de volta na estante e voltou-se para encará-la novamente. E tremeu. Alguma coisa como um pressentimento fez com que suas mãos se chocassem de repente num entrelaçar de dedos. E suspeitou: por mais que tentasse racionalizá-la ou enquadrá-la, ela sempre ficaria muito além de qualquer tentativa de racionalização ou enquadramento. Mas não era medo, embora já não tivesse certeza de até que ponto o olhar dele mesmo revelava uma verdade óbvia ou uma outra dimensão de coisas, inatingível se não a amasse tanto. Essa dúvida fez com que oscilasse, de tal maneira precário que novamente precisou falar:
– Você não passa de um substantivo feminino — disse, e quase sem sentir acrescentou - ... mas eu te amo tanto, tanto.

Recompôs-se, brusco. Não, melhor não falar nada. Admitia que não conseguisse controlar seus pensamentos, mas admitir que não conseguisse controlar também o que dizia lançava-o perigosamente próximo daquela zona que alguns haviam convencionado chamar loucura. E essa era a primeira vez que se descobria assim, tão perto dessas coisas incompreensíveis que sempre julgara acontecerem aos outros — àqueles outros distanciados, melancólicos e enigmáticos, que costumava chamar de os-sensíveis —jamais a ele. Pois se sempre fora tão objetivo. Suportava apenas as superfícies onde o ar era plenamente respirável, e principalmente onde os sentidos todos sentiam apenas o que era corriqueiro e normal sentir. Subitamente pensava e sentia e dizia coisas que nunca tinham sido suas.
Então, admitiu o medo. E admitindo o medo permitia-se uma grande liberdade: sim, podia fazer qualquer coisa, o próximo gesto teria o medo dentro dele e portanto seria um gesto inseguro, não precisava temer, pois antes de fazê-lo já se sabia temendo-o, já se sabia perdendo-se dentro dele — finalmente, podia partir para qualquer coisa, porque de qualquer maneira estaria perdido dentro dela.
Todo enleado nesse pensamento, tomou-a entre os dedos de pontas arredondadas e colocou-a em volta do pescoço. Os dez dedos esmeraram-se em laçadas: segurou as duas pontas com extremo cuidado, cruzou a ponta esquerda com a direita, passou a direita por cima e introduziu a ponta entre um lado esquerdo e um lado direito. Abriu a porta do guarda-roupa, onde havia o espelho grande, olhou-se de corpo inteiro, as duas mãos atarefadas em meio às pontas de pano. Sentia-se aliviado. Já não era tão cedo nem era mais sábado, mas se se apressasse podia ainda quem sabe viver intensamente a madrugada de domingo. Vou viver uma madrugada de domingo — disse para dentro, num sussurro. — Basta apertar. Mas antes de apertar uma coisa qualquer começou a acontecer independente de seus movimentos. Sentiu o pescoço sendo lentamente esmagado, introduziu os dedos entre os dois pedaços de pano de cor vagamente indefinível, entremeado por pequenas formas coloridas, mas eles queimavam feito fogo.
Levou os dedos à boca, lambeu-os devagar, mas seu ritmo lento opunha-se ao ritmo acelerado da gravata, apertando cada vez mais. Ainda tentou desvencilhar-se duas, três, quatro vezes, dizendo-se baixinho do impossível de tudo aquilo, o pescoço queimava e inchava, os olhos inundados de sangue, quase saltando das órbitas. Quando tentou gritar é que ergueu os olhos para o espelho e, antes de rodar sobre si mesmo para cair sobre o assoalho, ainda teve tempo de ver um homem de olhos esbugalhados, boca aberta revelando algumas obturações e falhas nos dentes, inúmeras rugas na testa, escassos cabelos despenteados, duas pontas de seda estrangeira movimentando-se feito cobras sobre o peito, uma das mãos cerradas com força e a outra estendida em direção ao espelho — como se pedisse socorro a qualquer coisa muito próxima, mas inteiramente desconhecida. de papéis


O Ovo Apunhalado - Caio Fernando Abreu

9 de setembro de 2011

Perder peso me abala..

S: Achei você mais magra.

M: É, realmente estou. :(  E tem dois meses que tento recuperar e não consigo.

S: Como é? Recuperar? Enquanto minha sobrinha tem uma batalha diária com a balança, você reclama por que perdeu peso. Mykaelly, eu definitivamente não entendo as mulheres.

M: Meu metabolismo é muito lento. Consigo perder peso facilmente, mais  recuperá-los me causa sérios problemas.  rsrs , é bem engraçado ler isso de uma mulher. Mais não posso negar que perder peso me estressa.

8 de setembro de 2011

Coisa de gente grande



O que machuca não são as mentiras contadas, são as formas que elas soam aos nossos ouvidos. Odeio fingimento de bondade. Mais se é pra tentar ser bom  dê seu melhor ou não tente.
De que valem as segundas chances pra quem já teve milhares de oportunidades para recriá-las, sem ao menos ter aproveitado um único momento? De que valem todo o drama em ligações, supostas lágrimas, presentes caros, demonstrações de afetos em públicos se os únicos interessados não acreditam mais?
 Hoje a situação deveria ser completamente diferente, porém, o deveria foi substituído nitidamente pelo poderia.
Não te culpo pelas suas escolhas, entretanto não me culpe pela pessoa que me tornei meus pensamentos, minhas palavras, minhas escolhas, minhas decisões, essa sou eu.
Uma metade sua completamente diferente.
Não julgue meu caráter como algo irrelevante. Aprenda a me conhecer como eu aprendi a ver quem você é.
Nunca acreditei em lobo mau, príncipes ou cinderelas, e não será agora que vou imaginar que tem um mundo fantástico atrás disso tudo...
Meu mundo é bem diferente do que você tentou criar:  concepções, sabedorias, aprendizagens, humildade, e acima de tudo amar ao  próximo.
Sim, porque quando se ama e quer o bem de alguém os privamos de mediocridade. Colocamos o coração na mão dessas pessoas sem medo do que posso acontecer.

Ser gente grande cansa!!

6 de setembro de 2011

O Chorão, a Lua e o Lago


Vocês conhecem o chorão?

 Aquela árvore
assim alta, magra, meio despencada, com uns galhos compridos até o chão?
Pois diz a Juçara que o chorão não era assim.
Era uma árvore toda esticadinha, muito orgulhosa e antipática. Ela morava na beira de um lago bem clarinho. Pois imagina que o Chorão — que naquele tempo não se chamava chorão, mas salgueiro — inventou de se
apaixonar pela Lua. Só que o Lago também se apaixonou, ao mesmo tempo.
Ficavam os dois, o Chorão e o Lago, todos suspirosos quando a Lua aparecia atrás da montanha, ao anoitecer. Tantas caras e bocas fizeram que um vaga-lume muito fofoqueiro ouviu a história da tal paixão e foi contar pra Lua. A Lua, claro, ficou muito envaidecida. Quem que não gosta que os outros se apaixonem pela gente? Pois a Lua mandou dizer aos dois apaixonados que, na próxima sexta-feira, quando estivesse bem cheia e aparecesse atrás da montanha, o pretendente que estivesse mais bonito, na hora ela ficava noiva. O Chorão ficou na maior empolgação. Fez amizade com o vaga-lume, interesseira que era. E pediu a ele que chamassem todos os amigos vaga-lumes para enfeitá-lo todo, na sexta-feira de tardezinha. O pobre do Lago era muito desajeitado e humildezinho. Até tentou se enfeitar um pouco, mas os enfeites todos escorregavam na superfície dele e acabavam afundando. Quando chegou a sexta-feira, o Chorão estava lindaço, cheio de vaga-lumezinhos vaga-lumeando brilhosos nos galhos.
Parecia uma árvore de Natal. E tão atrevido! Debochava horrores do pobre
Lago, que só tinha uns peixinhos muito assustados espiando de vez em quando. A Juçara diz que aquele salgueiro estava um nojo, de tão exibido e certo de que ia ficar noivo da Lua. Mas acontece que, na hora em que a Lua apareceu atrás da montanha, ela viu todo aquele brilho do salgueiro refletido — onde? Ora, nas águas do pobrezinho do Lago, umas águas muito limpinhas e quietas. Claaaaaaaaro que ela achou o Lago muitíssimo mais bonito. Aí ficou noiva dele na hora, e nas sete noites de lua cheia vem se banhar nua nas suas águas quentinhas. O salgueiro? Ah, ficou tão desapontado que começou a despencar despencar, despencar até virar essa árvore tristonha que a gente agora chama de chorão. Não é bonita a historinha da Juçara? Você pode achar um pouquinho triste, também, mas eu acho ótimo que o chorão tenha sido castigado pelo seu orgulho. Daí, penso também outra coisa de gente grande: não adianta muito você se enfeitar todo pra uma pessoa gostar mais de você. Porque, se ela gostar, vai gostar de qualquer jeito, do jeito que você é mesmo, sem brilhos falsos. A
Ulla me disse depois que a Juçara contou a história bem alta, num dia em que a Otília estava insuportável, agredindo sem parar a pobre da Gabi.
Quem sabe assim a Otília se toca um pouco, não é?


Extraído do livro as Frangas - Caio Fernando Abreu



5 de setembro de 2011

Participação do II Prêmio Alagoano de Blogs


Olá pessoas, estou participando do II Prêmio Alagoano de Blogs, e gostaria de contar com o apoio de vocês. A votação é dividida por categoria. E para votar é só preciso se cadastrar. Segue o link para fazer o cadastramento e em seguida a votação:



Conheça mais:  

O I Prêmio Alagoano de Blogs  aconteceu no dia 11 de dezembro de 2010, que teve inicio a história da blogosfera alagoana, junta e interagindo pessoalmente. Durante a entrega do I Prêmio Alagoano de blogs, num ambiente informal, com o objetivo de tornar conhecido um dos projetos que nasceu dentro do Alagoas Colaborativo, nos reunimos para premiar e festejar a blogosfera alagoana.

 O principal objetivo é inserir as pessoas, através de seus blogs, em atividades que fomentem a cultura, o desenvolvimento social, cultural e a inclusão digital do estado de Alagoas.


Votação

5.1 O período de votação ocorrerá entre o dia 31 de Agosto de 2011 e terminará no dia 30 de setembro de 2011.5.2. Para votar é necessário fazer um cadastro no site do evento e aguardar uma mensagem de confirmação, que chegará a seu e-mail.
5.3 O cadastro permite votar em um blog por categoria a cada 24 horas.
5.4 Haverá sorteio de brindes para o público votante. Os internautas que votarem em todas as categorias estão automaticamente concorrendo aos brindes.
5.5 Para cada blog participante será disponibilizado um selo eletrônico de votação, para ser aplicado no blog participante do premio.
5.6 Para não influenciar na votação Popular e Avaliação do Júri Acadêmico não será divulgado publicamente em momento algum o número de votos dos participantes.
5.7 Os cinco blogs mais votados de cada categoria pelo júri popular serão votados pelo júri técnico.

Para maiores informações, visitem:



Conto com a colaboração de todos,

Abraço Forte!

2 de setembro de 2011

E dói mais fundo...



"Como falar das saudades que a gente sente, como se fosse outro dia, que ele esteve presente em nossa vida?
Parece que não combina dizer: - "Que saudade sinto do meu pai!",
Ah, não é apenas porque ele me carregava no colo, me levava para aprender a andar de cavalo, me ensinava a desenhar ou me levava para as aulas de pinturas...
Acima de tudo isto, o que me fez sentir saudades dele, foi porque ele foi o primeiro homem que amei! E pude amar, sem medo. E seu amor foi algo que ele nunca "retirou" de mim...sempre me ofereceu seu amor, sincero, verdadeiro, sem nenhuma condição, a não ser, estar disponível para receber este amor.
Hoje acordei ouvindo a música que ele mais escutava e não acredito em acaso, será pela data de hoje? Enfim..
Eu sei que onde ele estiver vai cantar sempre.."


Pai, eu sinto a sua presença, em tudo que eu faço: na escola , em casa, ou na rua
♫ Eu recordo com felicidade, dia, mês e hora em que você nasceu você trouxe tanta alegria, fruto do amor de sua mãe e eu.
Meu filho Deus que lhe proteja de onde quer que eu esteja eu rezo por você, eu adoro ver você sorrindo teu sorriso faz de tudo eu esqueço.

Com o peito cheio de saudade eu lembro os bons momentos em que você me deu. Não consigo esquecer o dia que você nos deixou e foi morar com Deus, Mais eu sinto a sua presença em tudo que eu faço onde quer que vá, na escola, em casa ou na rua, qualquer coisa que eu olho o seu rosto está.
Hoje estou mais crescido, quanto tempo já passou, sempre vou levar comigo tudo que você me ensinou.

1 de setembro de 2011

Metâmero



Para Déa Martins

Desde que li em algum livro de biologia que «metâmero é cada um dos anéis do corpo de um verme, e que cada um desses metâmeros pode formar um verme novo’ fiquei fascinado pela idéia de textos que seriam assim como embriões de si mesmos. Se desenvolvidos, poderiam resultar em contos ou até mesmo novelas ou romances. Das dezenas que escrevi, estes dois me parecem os melhores.

1. A PERDA

Quando passo às vezes por aquela esquina, espio sempre a outra rua por trás da igreja. E mesmo sem querer, sem perceber claro o que sinto, lembro daquela tarde em que fui visitá-lo pela última vez, depois voltei caminhando pela rua cheia de árvores tão altas que suas copas se encontram e se misturam no alto, como num túnel redondo, irregular, a pensar coisas que nem lembro mais.
Quando passo por lá assim rapidamente, numa tarde como a de ontem ou outras iguais destes tantos meses passados, penso se não deveria retomá-la — essa rua, essa caminhada, mas sem ele agora — uma tarde, noite ou manhã quaisquer para refazer o percurso inverso até a casa dele, onde nem mora mais. E parado naquela esquina feito espião, contemplar a sacada daquele décimo andar onde costumávamos nos debruçar abraçados para olhar aquela rua lá embaixo sendo aos poucos coberta pelas sombras da tarde furando a copa-túnel das árvores. As sombras que crescem devagar sobre o asfalto quente do verão passado. As sombras, enfim.



Por Caio Fernando Abreu

Uma historia confusa





Por Caio Fernando Abreu

Uma primeira versão desta história foi publicada em 1974, na Revista ZH, de Zero Hora, e escrita provavelmente no mesmo ano, em Porto Alegre. Esta versão, a definitiva, foi totalmente reescrita. Creio que ganhou, embora pareça paradoxal, mais ambiguidade e mais clareza.

Era quinta-feira. Como nas últimas quintas, ele estava muito nervoso e trazia um envelope na mão. Jogou o envelope em cima da mesa, ficou andando pelo quarto.
— Outra carta? — perguntei.
Não respondeu. Só fez um movimento impaciente com os ombros, que podia significar muitas coisas. Mas não disse nada. Eu então abri e li as palavras datilografadas com cuidado:
Te vi por trás das rosas e havia nos teus olhos uma ânsia muda. Algo assim como se quisesses falar comigo. Juro que na saída tentei me aproximar Mas tive medo. Sei que ainda vamos ser amigos. Não quero forçar nada. Hoje é domingo pouco antes do almoço. A casa está vazia. Eu gostaria de ter escrito logo depois daquela noite. É incrível, mas há duas décadas, nesse mesmo dia da semana, nessa mesma hora, eu estava nascendo.
— É bonito — eu arrisquei. — Um pouco juvenil, talvez. Mas bonito. Afinal, a adolescência é sempre bonita.
— Ele tem vinte anos.
— Ele? Como é que você sabe que é ele e não ela?
— Eu acho, eu sinto. Uma mulher não escreveria essas coisas. Não sei, o jeito de escrever, alguma coisa.
— Pode ser — eu disse.
— E tinha uma outra carta, acho que não mostrei a você. Ele dizia que estava cansado, isso mesmo, cansado e não cansada.
— Não lembro — menti. — E ele pode estar mentindo. Essa data, por exemplo, essa data pode ser inventada.
Ele evitou meus olhos ao contar:
— Fui consultar um astrólogo. Ele nasceu a 22 de setembro de 1954. Entre mais ou menos dez e meio-dia. É de Virgem, o astrólogo disse, do último dia de Virgem. Pelos cálculos, o ascendente deve ser Escorpião.
— Ascendente?
— É o signo que. — Ele levantou os olhos, irritado. Escuta, você não vai querer agora que eu te dê uma aula de astrologia, vai?
— Não, não. Só queria saber o que quer dizer isso.
— Quer dizer que ele deve ser inteligente. Muito inteligente. E secreto, misterioso, intenso. Só pelas cartas qualquer um percebe que ele tem certa... certa estrutura. As cartas são bem escritas, a gramática é sempre correta.
— É verdade — eu disse. — Corretíssima.
Ele sentou na beira da cama. E afundou no travesseiro:
— Não agüento mais. Isso tem quase dois meses. Preciso saber quem é essa pessoa.
Sentado aos pés da cama, eu não sabia o que dizer.
— Ele sabe tudo sobre mim, os meus horários, tudo. As vezes fala de pessoas que conheço, de lugares onde vou. Deve estar sempre por perto, deve conhecer muita gente que eu conheço.
— Você está muito agitado.
— Claro. Como é que você queria que eu estivesse? Cada vez que recebo uma carta dessas fico assim. Me dá uma sensação estranha, saio na rua com a impressão que estou sendo observado. Alguém que eu não sei quem é acompanha todos os meus passos.
— Com amor — eu disse.
Ele acendeu um cigarro e ficou seguindo a fumaça até o teto:
—Amor? Não sei. É meio paranóico. Parece uma coisa para enlouquecer a gente devagar.
— Ou para fazer que você se interesse por ele.
Levantou-se de repente e debruçou-se na mesa. De costas, eu só podia ver seus ombros curvos e as duas mãos abertas segurando a cabeça desgrenhada.
Fico imaginando as histórias mais incríveis. Às vezes acho que é alguém querendo divertir-se comigo.
— Não. — E eu disse pela segunda vez: — Isso é amor.
— Será? Tem coisas, tem coisas que ele escreve que parecem. Não sei, parecem verdade, entende? Ele me toca, mexe comigo. Talvez eu esteja assim todo lisonjeado porque alguém parece prestar tanta atenção em mim.
— Isso é amor — eu repeti pela terceira vez. Ele caminhou até ajanela. Percebi que olhava as folhas das palmeiras no meio da rua, remexidas pelo vento norte.
— As vezes tenho vontade de bancar o detetive. Mas as pistas são muito tênues. Selos comuns, envelope comum, cada dia um carimbo de uma agência diferente. E esse tipo de máquina é o mais comum que existe.
— Lettera 22.
Ele jogou a ponta do cigarro pela janela, voltou- se de repente e me olhou nos olhos:
— Como é que você sabe?
— Bom, qualquer um que lida com máquina de escrever reconhece logo. E inconfundível — eu afirmei. E mudei de assunto: — Mas não deixa de ser bonito.
— Bonito e infernal.
— É antigo.
— Cartas anônimas. Parece coisa de romance do século passado. Romance epistolar. Platônico. — Suspirou fundo. — Mas eu preciso saber logo quem é esse rapaz. Nunca ninguém se interessou tanto por mim.
Tornou a sentar na mesa, acendeu outro cigarro. Estendi o cinzeiro para ele:
— Você sempre fuma demais nas quintas-feiras.
Ele riu:
— Agora nas quartas também. Fico pensando se no dia seguinte vai chegar outra carta. — Tragou fundo, olhos fechados. E acrescentou, soltando a fumaça: — Também tenho escrito para ele.
— O quê?
— Tenho escrito para ele, escondido.
— Você não contou nada para Martha?
— Está louco? Você sabe como ela é ciumenta, contei só para você. Eu tenho que me esconder para escrever. Trancado no escritório, fico pensando que deve haver uma espécie assim de espírito do que eu estou escrevendo que sai pela janela, eu deixo sempre a janela aberta quando escrevo para ele, depois voa sobre os telhados e atravessa as ruas da cidade e as paredes para chegar até onde ele está, percebe?
— E o que você faz com as cartas que escreve?
— Guardo. A sete chaves. Um dia talvez possa entregá-las pessoalmente.
Eu também acendi um cigarro:
— E... o que você diz nessas cartas?
— Eu peço socorro. Eu digo que o meu casamento é um horror, já três anos desse horror que não acaba. Sabe que agora a Martha deu pra me chamar de fofo? Tem coisa mais odiosa? No domingo me pede uma parte do jornal e fica dizendo “olha só, fofo, precisamos aproveitar essa liquidação aqui, fofo, vai só até o dia 15, fofo”.
— Mas a Martha era uma mulher tão... especial.
— Antes de casar. Depois que casa, toda mulher vira débil mental. Bem fez você que não entrou nessa.
Eu apaguei o cigarro:
— E o que mais você diz nessas cartas?
Ele curvou-se outra vez sobre a mesa, uma das mãos apoiava a cabeça, a outra passava lenta no tampo de madeira. Como uma carícia:
Digo que às vezes eu tenho vontade de ter outra vez um amigo como aqueles que a gente tinha na adolescência. Aqueles pra quem você contava tudo, absolutamente tudo. E que no fim você nem sabe mais se é amigo ou irmão.
— Ou amante.
— Ou amante — ele repetiu. Depois jogou-se outra vez na cama, tirou uma folha amassada do bolso e leu: — Eu digo que estou disposto a qualquer coisa, eu digo assim: Chegue bem perto de mim. Me olhe, me toque, me diga qualquer coisa. Ou não diga nada, mas chegue mais perto. Não seja idiota, não deixe
isso se perder, virar poeira, virar nada. Daqui há pouco você vai crescer e achar tudo isso ridículo. Antes que tudo se perca, enquanto ainda posso dizer sim, por favor chegue mais perto
”.
Dobrou a folha e tomou a enfiá-la no bolso, ainda mais amassada.
Ficamos nos olhando. Eu não sabia o que dizer. Ele afundou novamente na cama, virou-se para a parede. Fiquei ouvindo:
— Falo para você um pouco como se fosse para ele. Se você pudesse me ajudar, se ele pudesse me ajudar. E tão complicado. Saio na rua e fico olhando todos os meninos de vinte anos, como se cada um pudesse ser ele. Ando sentindo umas coisas que não entendo direito. Não gosto de não entender o que sinto. Não gosto de lidar com o que não conheço. Eu nunca vivi nada assim.
Um vento mais forte abriu a janela, fazendo voar as cinzas do cinzeiro sobre a mesa. Ele parecia menor, encolhido sobre a cama. Eu continuei ouvindo:
— Já tenho trinta e quatro anos, não posso sentir as coisas como se tivesse quinze. Você sabe, nós temos quase a mesma idade. Quanto você tem agora?
— Trinta e três — eu disse.
— Pois é, você sabe bem. A gente não tem mais idade pra ficar com esses delírios.
— Você acha que não? — eu perguntei. Mas ele continuou a falar sem ouvir.
— E tão estranho de repente saber que tem alguém pensando em mim o tempo todo. Alguém que eu não conheço. E que tem vinte anos. Fico pensando umas coisas loucas, não consigo parar.
— Que coisas — eu perguntei em voz baixa —, que coisas você pensa?
Ele passou a mão pela parede branca:
— Deitar do lado dele. Sem roupa. Abraçá-lo com força. Beijá-lo. Na boca. — Crispou a mão na parede e puxou-a para junto do corpo, para o meio das pernas. — Deve ser o vento norte, esse excesso de luz, a primavera chegando, a lua quase cheia. Não sei, desculpe. Eu estou muito confuso.
Ficou calado de repente. Olhava pela janela como se estivesse vendo algo, além das palmeiras, que eu não conseguia ver. Eu continuava sem saber o que dizer. Cheguei a chegar mais perto para estender a mão e tocar nos seus cabelos desgrenhados. E se ele não tivesse só vinte anos, esse rapaz, pensei em perguntar, você continuaria a gostar dele? Mas achei melhor não dizer nada. Parei minha mão no ar, depois puxei-a de volta para pegar outro cigarro. Mas continuei perto dele. Mais perto, bem perto. Era outra quinta-feira, esta de setembro, e desde o início de agosto nós andávamos os dois muito confusos.

Em memória de Paulo Yutaka

Entre 1977, quando foi escrito, e 1987, este texto passou por várias versões. Três delas chegaram a ser publicadas (na extinta revista mineira Inéditos; no caderno Cultura, de Zero Hora, e no suplemento literário de A Tribuna da Imprensa). Alguns trechos também foram utilizados por Luciano Alabarse num espetáculo teatral. Mas nunca consegui senti-lo pronto e por isso mesmo também nunca o incluí em livro. Continuo tendo a mesma sensação. Mas talvez o jeito meio sem jeito destes pedaços mais parecidos com fiagmen tos de cartas ou diário íntimo afinal seja a sua própria forma informe e inacabada.



Te amo como as begônias tarântulas amam seus congêneres;
como as serpentes se amam enroscadas lentas algumas muito verdes outras escuras,
a cruz na testa lerdas prenhes, dessa agudez que me rode ia,
te amo ainda que isso te fulmine
ou que um soco na minha cara me faça menos osso e mais verdade.
(Hilda Hilst: Lucas, Naim)


Por Caio Fernando Abreu


Desculpa, digo, mas se eu não tocar você agora vou perder toda a naturalidade, não conseguirei dizer mais nada, não tenho culpa, estou apenas sentindo sem controle, não me entenda mal, não me entenda bem, é só esta vontade quase simples de estender o braço para tocar você, faz tempo demais que estamos aqui parados conversando nesta janela, já dissemos tudo que pode ser dito entre duas pessoas que estão tentando se conhecer, tenho a sensação impressão ilusão de que nos compreendemos, agora só preciso estender o braço e, com a ponta dos meus dedos, tocar você, natural que seja assim: o toque, depois da compreensão que conseguimos, e agora.
Não diz nada, você não diz nada. Apenas olha para mim, sorri. Quanto tempo dura? Faz pouco despencou uma estrela e fizemos, ao mesmo tempo e em silêncio, um pedido, dois pedidos. Pedi para saber tocálo. Você não me conta seus desejos. Sorri com os olhos, com a mesma boca que mais tarde, um dia, depois daqui, poderá me dizer: não. Há uma espécie de heroísmo então quando estendo o braço, alongo as mãos, abro os dedos e brota. Toco. Perto da minha a boca se entreabre lenta, úmida, cigarro, chiclete, conhaque, vermelha, os dentes se chocam, leve ruído, as línguas se misturam. Naufrago em tua boca, esqueço, mastigo tua saliva, afundo. Escuridão e umidade, calor rijo do teu corpo contra a minha coxa, calor rijo do meu corpo contra a tua coxa. Amanhã não sei, não sabemos.
Pensei em você. Eram exatamente três da tarde quando pensei em você. Sei porque sacudi a cabeça como se você fosse uma tontura dentro dela e olhei o digital no meio da avenida.
Corre, corre. O número do telefone dissolvendo-se em tinta na palma da mão suada. Ah, no fim destes dias crispados de início de primavera, entre os engarrafamentos de trânsito, as pessoas enlouquecidas e a paranóia à solta pela cidade, no fim destes dias encontrar você que me sorri, que me abre os braços, que me abençoa e passa a mão na minha cara marcada, no que resta de cabelos na minha cabeça confusa, que me olha no olho e me permite mergulhar no fundo quente da curva do teu ombro. Mergulho no cheiro que não defino, você me embala dentro dos seus braços, você cobre com a boca meus ouvidos entupidos de buzinas, versos interrompidos, escapamentos abertos, tilintar de telefones, máquinas de escrever, ruídos eletrônicos, britadeiras de concreto, e você me beija e você me aperta e você me leva para Creta, Mikonos, Rodes, Patmos, Delos, e você me aquieta repetindo que está tudo bem, tudo, tudo bem. O telefone toca três vezes. Isto é uma gravação deixe seu nome e telefone depois do bip que eu ligo assim que puder, 0K?
O cheiro do teu corpo persiste no meu durante dias. Não tomo banho. Guardo, preservo, cheiro o cheiro do teu cheiro grudado no meu. E basta fechar os olhos para naufragar outra vez e cada vez mais fundo na tua boca. Abismos marinhos, sargaços. Minhas mãos escorrem pelo teu peito. Gramados batidos de sol, poços claros. Alguma coisa então pára, todas as coisas param. Os automóveis nas ruas, os relógios nas paredes, as pessoas nas casas, as estrelas que não conseguimos ver aqui do fundo da cidade escura. Olho no poço do teu olho escuro, meia-noite em ponto. Quero fazer um feitiço para que nada mais volte a andar. Quero ficar assim, no parado. Sei com medo que o que trouxe você aqui foi esse meu jeito de ir vivendo como quem pula poças de lama, sem cair nelas, mas sei que agora esse jeito se despedaça. Torre fulminada, o inabalável vacila quando começa a brotar de mim isso que não está completo sem o outro. Você assopra na minha testa. Sou só poeira, me espalho em grãos invisíveis pelos quatro cantos do quarto. Fico noite, fico dia. Fico farpa, sede, garra, prego. Fico tosco e você se assusta com minha boca faminta voraz desdentada de moleque mendigo pedindo esmola neste cruzamento onde viemos dar.
A cidade está louca, você sabe. A cidade está doente, você sabe. A cidade está podre, você sabe. Como posso gostar limpo de você no meio desse doente podre louco? Urbanóides cortam sempre meu caminho à procura de cigarros, fósforos, sexo, dinheiro, palavras e necessidades obscuras que não chego a decifrar em seus olhos semafóricos. Tenho pressa, não podemos perder tempo. Como chamar agora a essa meia dúzia de toques aterrorizados pela possibilidade da peste? (Amor, amor certamente não.) Como evitaremos que nosso encontro se decomponha, corrompa e apodreça junto com o louco, o doente, o podre? Não evitaremos. Pois a cidade está podre, você sabe. Mas a cidade está louca, você sabe. Sim, a cidade está doente, você sabe. E o vírus caminha em nossas veias, companheiro.
Fala, fala, fala. Estou muito cansado. Já não identifico nenhuma palavra no que diz. Apenas me deixo embalar pelo ritmo de sua voz, dentro dessa melodia monótona angustiada perpiexa repetitiva. Quase três da manhã. Não temos aonde ir, nunca tivemos aonde ir. Um nojo, vezenquando me dá um asco — nojo é culpa, nojo é moral — você se sente sórdido, baby? — eu tenho medo, não quero correr riscos — mas agora só existe um jeito e esse jeito é correr o risco — não é mais possível — vamos parar por aqui — quero acordar cedo, fazer cooper no parque, parar de beber, parar de fumar, parar de sentir — estou muito cansado
— não faz assim, não diz assim — é muito pouco — não vai dar certo — anormal, eu tenho medo — medo é culpa, medo é moral — não vê que é isso que eles querem que você sinta? medo, culpa, vergonha — eu aceito, eu me contento com pouco — eu não aceito nada nem me contento com pouco — eu quero muito, eu quero mais, eu quero tudo.
Eu quero o risco, não digo. Nem que seja a morte.
Cachorro sem dono, contaminação. Sagüi no ombro, sarna. Até quando esses remendos inventados resistirão à peste que se infiltra pelos rombos do nosso encontro? Como se lutássemos — só nós dois, sós os dois, sóis os dois — contra dois mil anos amontoados de mentiras e misérias, assassinatos e proibições. Dois mil anos de lama, meu amigo. Esse lixo atapetando as ruas que suportam nossos passos que nunca tiveram aonde ir.
Chega em mim sem medo, toca no meu ombro, olha nos meus olhos, como nas canções do rádio. Depois me diz: — “Vamos embora para um lugar limpo. Deixe tudo como está. Feche as portas, não pague as contas nem conte a ninguém. Nada mais importa. Agora você me tem, agora eu tenho você. Nada mais importa. O resto? Ah, o resto são os restos. E não importam”. Mas seus livros, seus discos, quero perguntar, seus versos de rima rica? Mas meus livros, meus discos, meus versos de rima pobre? Não importa, não importa. Largue tudo. Venha comigo para qualquer outro lugar. Triunfo, Tenerife, Paramaribo, Yokohama. Agora, já. Peço e peço e não digo nada mas peço e peço diga, diga já, diga agora, diga assim. Você não diz nada. Você não me vê por trás do meu olho que vê. Você não me escuta por trás da minha boca que pede sem dizer, e eu bem sei. Você planeja partir para um país distante, sem mim, de onde muitos anos depois receberei a carta de um desconhecido com nome impronunciável anunciando a sua morte. Foi em abril, dirá, abril ou maio. Ou setembro, outubro. Os mais cruéis dos meses. Tanto faz, já não importará depois de tanto tempo, numa cidade remota.
Pelas escadarias da avenida deserta, lata de coca- cola largada na porta da igreja, aqui parece que o tempo não passou, quero te mostrar um vitral, esta sacada, aquele balcão como os de Lorca, entremeado de rosas, quero dividir meu olhar, desaprendi de ver sozinho e agora que tudo perdeu a magia, se magia houve, e havia, e não consigo mais ver nenhum anjo em você, pastor, mago, cigano, herói intergaláctico, argonauta, replicante, e agora que vejo apenas um rapaz dentro do qual a morte caminha inexorável, só não sabemos quando o golpe final, mas virá, cabelos tão negros, rosto quase quadrado, quase largo, quase pálido, onde já começou a devastação, olhos perdidos, boca de naufrágio vermelho pesado sobre o escuro da barba malfeita, olho tudo isso que vejo e não tem outra magia além dessa, a de ser real, e vou dizendo lento, como quem tem medo de quebrar a rija perfeição das coisas, e vou dizendo leve, então, no teu ouvido duro, na tua alma fria, e vou dizendo louco, e vou dizendo longo sem pausa — gosto muito de você gosto muito de você gosto muito de você.
Tantas mortes, não existem mais dedos nas mãos e nos pés para contar os que se foram. Viver agora, tarefa dura. De cada dia arrancar das coisas, com as unhas, uma modesta alegria; em cada noite descobrir um motivo razoável para acordar amanhã. Mas o poço não tem fundo, persiste sempre por trás, as cobras no fundo enleadas nas lanças. Por favor, não me empurre de volta ao sem volta de mim, há muito tempo estava acostumado a apenas consumir pessoas como se consome cigarros, a gente fuma, esmaga a ponta no cinzeiro, depois vira na privada, puxa a descarga, pronto, acabou. Desculpe, mas foi só mais um engano? e quantos mais ainda restam na palma da minha mão? Ah, me socorre que hoje não quero fechar a porta com esta fome na boca, beber um copo de leite, molhar plantas, jogar fora jornais, tirar o pó de livros, arrumar discos, olhar paredes, ligar-desligar a tevê, ouvir Mozart para não gritar e procurar teu cheiro outra vez no mais escondido do meu corpo, acender velas, saliva tua de ontem guardada na minha boca, trocar lençóis, fazer a cama, procurar a mancha da esperma tua nos lençóis usados, agora está feito e foda-se, nada vale a pena, puxar as cobertas, cobrir a cabeça, tudo vale a pena se a alma, você sabe, mas alma existe mesmo? e quem garante? e quem se importa? apagar a luz e mergulhar de olhos fechados no quente fundo da curva do teu ombro, tanto frio, naufragar outra vez em tua boca, reinventar no escuro teu corpo moço de homem apertado contra meu corpo de homem moço também, apalpar as virilhas, o pescoço, sem entender, sem conseguir chorar, abandonado, apavorado, mastigando maldições, dúbios indícios, sinistros augúrios, e amanhã não desisto: te procuro em outro corpo, juro que um dia eu encontro.
Não temos culpa, tentei. Tentamos.

Dica do dia

  • Arca de Nóe - Filme
  • Nikita - Séries
  • The Big Bang Theory - Séries
  • Dexter - Séries
  • Touch - Séries
  • 50 / 50 - Filme
  • Amizade Colorida - Filme
  • Confiar - Filme
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  • Morangos Mofados - Caio Fernando Abreu
  • As Frangas - Caio Fernando Abreu
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Os infinitos mais vistos

Isso é escrever

“Não sinto nada mais ou menos, ou eu gosto ou não gosto. Não sei sentir em doses homeopáticas. Preciso e gosto de intensidade, mesmo que ela seja ilusória e se não for assim, prefiro que não seja. Não me apetece viver histórias medíocres, paixões não correspondidas e pessoas água com açúcar. Não sei brincar e ser café com leite. Só quero na minha vida gente que transpire adrenalina de alguma forma, que tenha coragem suficiente pra me dizer o que sente antes, durante e depois ou que invente boas estórias caso não possa vivê-las. Porque eu acho sempre muitas coisas - porque tenho uma mente fértil e delirante - e porque posso achar errado - e ter que me desculpar - e detesto pedir desculpas embora o faça sem dificuldade se me provarem que eu estraguei tudo achando o que não devia. Quero grandes histórias e estórias; quero o amor e o ódio; quero o mais, o demais ou o nada. Não me importa o que é de verdade ou o que é mentira, mas tem que me convencer, extrair o máximo do meu prazer e me fazer crêr que é para sempre quando eu digo convicto que nada é para sempre." (Gabriel García Márquez)

Definição

"Me mande mentalmente coisas boas. Estou tendo uns dias difíceis, mas nada, nada de grave. Dias escuros sem sorrisos, sem risadas de verdade. Dias tristes, vontade de fazer nada, só dormir. Dormir porque o mundo dos sonhos é melhor, porque meus desejos valem de algo, dormir porque não há tormentos enquanto sonho, e eu posso tornar tudo realidade. Quando acordo, vejo que meus sonhos não passam disso, sonhos; e é assim que cada dia começa: desejando que não tivesse começado, desejando viver no mundo dos sonhos, ou transformar meu mundo real num lugar que eu possa viver, não sobreviver."
(CFA)

Pausado

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"Tô feliz, to despreocupado, com a vida eu to de bem"

Quem sigo

Um Pouco

"Mas como menina-teimosa que sou, ainda insisto em desentortar os caminhos. Em construir castelos sem pensar nos ventos. Em buscar verdades enquanto elas tentam fugir de mim. A manter meu buquê de sorrisos no rosto, sem perder a vontade de antes. Porque aprendi, que a vida, apesar de bruta, é meio mágica. Dá sempre pra tirar um coelho da cartola. E lá vou eu, nas minhas tentativas, às vezes meio cegas, às vezes meio burras, tentar acertar os passos. Sem me preocupar se a próxima etapa será o tombo ou o voo. Eu sei que vou. Insisto na caminhada. O que não dá é pra ficar parado. Se amanhã o que eu sonhei não for bem aquilo, eu tiro um arco-íris da cartola. E refaço. Colo. Pinto e bordo. Porque a força de dentro é maior. Maior que todo mal que existe no mundo. Maior que todos os ventos contrários. É maior porque é do bem. E nisso, sim, acredito até o fim.” (Caio Fernando Abreu)