“Queria tanto poder usar a palavra voragem. Poder não, não quero poder
nenhum, queria saber. Saber não, não quero saber nada, queria conseguir.
Conseguir também não - sem esforço, é como eu queria. Queria sentir, tão
dentro, tão fundo que quando ela, a palavra, viesse à tona, desviaria da razão
e evitaria o intelecto para corromper o ar com seu som perverso. A-racional,
abismal. Não me basta escrevê-la - que estou escrevendo agora e sou capaz
de encher pilhas de papel repetindo voragem voragem voragem voragem
voragem voragem voragem sete vezes ao infinito até perder o sentido e mais
nada significar [...] Eu quero sê-la, voragem”.-
[...] é bom ler durante a viagem, embora eu prefira ficar olhando pela janela e
pensando coisas,estas mesmas coisas que estou tentando dizer a você sem
conseguir, por favor, me ajuda, senão vai ser muito tarde, daqui a pouco não vai
ser mais possível [...]-
[...] sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você
ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você
não era apenas uma projeção daquilo que seu sentia, e se era assim, até quando
eu conseguiria ver em você todas as coisas que me fascinavam e que no fundo,
sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era
só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? [...]-
Caio Fernando Abreu
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Qual seu Infinito?